Já houve um tempo, nos inícios da criação, em que o nosso planeta existia num perfeito estado de equilíbrio.
Se olharmos atentamente, quase tudo na natureza funciona por ciclos, sucessivas etapas de criação, amadurecimento e renovação.
A Terra transforma-se contínua e invariavelmente, todos os dias, por vezes aos nossos olhos… Mas talvez, na maioria das vezes, num complexo exercício de paciência, mestria e generosidade que pode chegar a demorar milhões de anos até completar-se.
Pontualmente, esse estado de equilíbrio é perturbado por algum desastre natural, condição necessária para a manutenção da própria harmonia.
Mas, nos últimos anos (décadas, séculos…) temos presenciado o aumento desenfreado dessas situações de desequilíbrio, não por condicionantes naturais, mas agravado pela acção humana.
Tal como muitos condóminos não estimam as casas em que habitam, pode dizer-se que o Homem não tem sido o habitante ideal deste nosso “Condomínio da Terra”[i]. A pressão que tem colocado sobre os recursos tem sido tal, que se tornou impossível ao nosso planeta regressar ao seu estado de equilíbrio.
É claro que esta situação não é recente, dura há séculos… Na verdade, terá começado a acontecer logo após a Revolução Agrícola. O Homem deixa de ser recolector e percebe que pode adaptar as condições naturais em seu benefício. Fá-lo de uma forma, sem precedentes e, que viria a agravar-se muito, até aos padrões insustentáveis que temos nos dias que correm.
E, tal como os problemas que afectam o nosso planeta – e o nosso dia a dia – o conceito de Desenvolvimento Sustentável (e de sustentabilidade) não é, de todo, recente.
Apesar do seu aparecimento formal ter acontecido apenas em 1987, costuma dizer-se que as suas bases foram lançadas já no séc. XVIII. Malthus, que viria a ficar conhecido como o pai da demografia, chegou à conclusão de que a população estava a crescer a um ritmo demasiado superior ao dos recursos naturais. E é claro que isso não podia ser sustentável a longo prazo.
Mas afinal, o que é isso da sustentabilidade?
Derivando do latim “sustentare”, sustentabilidade, significa a habilidade de ser sustentável, suportado, conservado.
Simplificando aquilo que à partida pode parecer complexo, o conceito de desenvolvimento sustentável parte da premissa de que nós não dispomos dos recursos que a Terra possui. Sim… ao contrário daquilo que muitas vezes acreditamos!
Na verdade, esta apenas no-los empresta, gentilmente, para que possamos usufruir dos mesmos com equilíbrio, peso, conta e medida…o que nem sempre acontece, como sabemos.
Na teoria – como na prática – significa que, tanto o ar que respiramos, como o sol que nos ilumina e aquece ou os alimentos que nos nutrem, nada disso nos pertence! Ou pelo menos não nos pertence mais – nem menos – do que aos nossos filhos, netos e todas as outras gerações futuras, que nunca viveremos para conhecer.
Desenvolvimento, progresso… como gerir então estas questões, sem causar maior impacto no ambiente natural?
É aqui que o conceito começa a tornar-se complexo, mas também a ganhar a sua riqueza. É que, embora cada vez mais se ouça falar em “sustentabilidade ambiental”, o conceito não se esgota nesta única dimensão.
Claro que o ambiente natural é o elemento fundamental, que importa ser conservado, para a satisfação das nossas necessidades mais básicas e imediatas. No entanto temos de pensar o Homem, enquanto ser vivo, mas também ser social e económico…complexo.
E este ser tem outras necessidades que, não sendo tão elementares, são igualmente importantes na construção da sua existência.
Nada de novo na natureza…todas as espécies animais se organizam segundo relações sociais e económicas necessárias à sua sobrevivência. O Homem talvez o faça de uma forma mais complicada, mais consciente, mais ambiciosa e menos respeitadora dos limites.
Com aparecimento do Homem há cerca de 3,5/4 milhões de anos (ou seja, ontem, quase à meia noite, se pensarmos em termos de Eras Geológicas!) conceitos como sociedade e economia ganham uma nova dimensão. Tiveram de assumir um carácter diferente e adaptado ao ritmo evolutivo vertiginoso desta nova espécie que veio ocupar a Terra.
Ambiente, sociedade e economia constituem, então, as três dimensões elementares do desenvolvimento sustentável.
São estes os três pilares sobre os quais se constrói este conceito cuja necessidade há tantos séculos vem sendo “gritada” pelo nosso planeta. Este conceito cuja aplicabilidade urge descobrir e trazer para o nosso vocabulário corrente e para o nosso quotidiano. Mas acima de tudo, que é preciso trazer para a nossa consciência colectiva e individual, para as nossas acções diárias!
Tal como afirma Thich Nhat Hanh, monge budista, pacifista e escritor, não é possível proteger o ambiente, se não nos preservarmos a nós mesmos – o nosso corpo, mente e consciência. Da mesma forma, o nosso bem estar, depende do bem estar do nosso planeta.
E para tal, é preciso entender que a Terra não é apenas um elemento no qual vivemos, mas uma parte significativa de nós próprios.
[i] Condomínio da Terra é um livro de autoria de Paulo Magalhães, que aborda as alterações ambientais segundo uma nova concepção jurídica do planeta
Sustentabilidade | Levantando a Ponta do Véu
Já houve um tempo, nos inícios da criação, em que o nosso planeta existia num perfeito estado de equilíbrio.
Se olharmos atentamente, quase tudo na natureza funciona por ciclos, sucessivas etapas de criação, amadurecimento e renovação.
A Terra transforma-se contínua e invariavelmente, todos os dias, por vezes aos nossos olhos… Mas talvez, na maioria das vezes, num complexo exercício de paciência, mestria e generosidade que pode chegar a demorar milhões de anos até completar-se.
Pontualmente, esse estado de equilíbrio é perturbado por algum desastre natural, condição necessária para a manutenção da própria harmonia.
Mas, nos últimos anos (décadas, séculos…) temos presenciado o aumento desenfreado dessas situações de desequilíbrio, não por condicionantes naturais, mas agravado pela acção humana.
Tal como muitos condóminos não estimam as casas em que habitam, pode dizer-se que o Homem não tem sido o habitante ideal deste nosso “Condomínio da Terra”[i]. A pressão que tem colocado sobre os recursos tem sido tal, que se tornou impossível ao nosso planeta regressar ao seu estado de equilíbrio.
É claro que esta situação não é recente, dura há séculos… Na verdade, terá começado a acontecer logo após a Revolução Agrícola. O Homem deixa de ser recolector e percebe que pode adaptar as condições naturais em seu benefício. Fá-lo de uma forma, sem precedentes e, que viria a agravar-se muito, até aos padrões insustentáveis que temos nos dias que correm.
E, tal como os problemas que afectam o nosso planeta – e o nosso dia a dia – o conceito de Desenvolvimento Sustentável (e de sustentabilidade) não é, de todo, recente.
Apesar do seu aparecimento formal ter acontecido apenas em 1987, costuma dizer-se que as suas bases foram lançadas já no séc. XVIII. Malthus, que viria a ficar conhecido como o pai da demografia, chegou à conclusão de que a população estava a crescer a um ritmo demasiado superior ao dos recursos naturais. E é claro que isso não podia ser sustentável a longo prazo.
Mas afinal, o que é isso da sustentabilidade?
Derivando do latim “sustentare”, sustentabilidade, significa a habilidade de ser sustentável, suportado, conservado.
Simplificando aquilo que à partida pode parecer complexo, o conceito de desenvolvimento sustentável parte da premissa de que nós não dispomos dos recursos que a Terra possui. Sim… ao contrário daquilo que muitas vezes acreditamos!
Na verdade, esta apenas no-los empresta, gentilmente, para que possamos usufruir dos mesmos com equilíbrio, peso, conta e medida…o que nem sempre acontece, como sabemos.
Na teoria – como na prática – significa que, tanto o ar que respiramos, como o sol que nos ilumina e aquece ou os alimentos que nos nutrem, nada disso nos pertence! Ou pelo menos não nos pertence mais – nem menos – do que aos nossos filhos, netos e todas as outras gerações futuras, que nunca viveremos para conhecer.
Desenvolvimento, progresso… como gerir então estas questões, sem causar maior impacto no ambiente natural?
É aqui que o conceito começa a tornar-se complexo, mas também a ganhar a sua riqueza. É que, embora cada vez mais se ouça falar em “sustentabilidade ambiental”, o conceito não se esgota nesta única dimensão.
Claro que o ambiente natural é o elemento fundamental, que importa ser conservado, para a satisfação das nossas necessidades mais básicas e imediatas. No entanto temos de pensar o Homem, enquanto ser vivo, mas também ser social e económico…complexo.
E este ser tem outras necessidades que, não sendo tão elementares, são igualmente importantes na construção da sua existência.
Nada de novo na natureza…todas as espécies animais se organizam segundo relações sociais e económicas necessárias à sua sobrevivência. O Homem talvez o faça de uma forma mais complicada, mais consciente, mais ambiciosa e menos respeitadora dos limites.
Com aparecimento do Homem há cerca de 3,5/4 milhões de anos (ou seja, ontem, quase à meia noite, se pensarmos em termos de Eras Geológicas!) conceitos como sociedade e economia ganham uma nova dimensão. Tiveram de assumir um carácter diferente e adaptado ao ritmo evolutivo vertiginoso desta nova espécie que veio ocupar a Terra.
Ambiente, sociedade e economia constituem, então, as três dimensões elementares do desenvolvimento sustentável.
São estes os três pilares sobre os quais se constrói este conceito cuja necessidade há tantos séculos vem sendo “gritada” pelo nosso planeta. Este conceito cuja aplicabilidade urge descobrir e trazer para o nosso vocabulário corrente e para o nosso quotidiano. Mas acima de tudo, que é preciso trazer para a nossa consciência colectiva e individual, para as nossas acções diárias!
Tal como afirma Thich Nhat Hanh, monge budista, pacifista e escritor, não é possível proteger o ambiente, se não nos preservarmos a nós mesmos – o nosso corpo, mente e consciência. Da mesma forma, o nosso bem estar, depende do bem estar do nosso planeta.
E para tal, é preciso entender que a Terra não é apenas um elemento no qual vivemos, mas uma parte significativa de nós próprios.
[i] Condomínio da Terra é um livro de autoria de Paulo Magalhães, que aborda as alterações ambientais segundo uma nova concepção jurídica do planeta
CONSCIÊNCIA
COMPROMISSO
EQUILIBRIO
Susana Machado
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