Por estes dias estamos todos sob o efeito narcótico da magia do Ano Novo, como se com a viragem do calendário viessem outras renovações tornar-nos a vida melhor. Apesar de lhe reconhecer um óbvio sofismo, também eu sou devota crente do potencial transformador do Ano Novo nas nossas intenções, motivações e ações.
Estas são tanto alturas de reflexão como de promessa. Por defeito e virtude da condição humana, prometemos a nós próprios sempre mais e melhor. Mais saúde, mais amor, mais dinheiro, mais alegria. Melhores hábitos, melhores escolhas, melhores atitudes, melhores experiências. E pedimos, há quase dois séculos, o mesmo da Terra.
Mais espaço, mais água, mais minerais, mais calor, mais frio, mais chuva, mais petróleo, mais gás natural, mais potência, mais cereais, mais carne, mais peixe, mais chocolate, mais café, mais algodão, mais lã, mais plástico, mais lítio, mais bambu, mais papel, mais reciclagem, mais rápido, mais eficiente, mais produtivo, com mais qualidade.
A maioria de nós não precisará de uma sessão de psicoterapia nem de uma consulta de coaching para saber que exigirmos demasiado de nós próprios é como balançarmos, seguros só por um braço, do topo do precipício para o fracasso.
E não estarei a partilhar uma novidade
ao dizer que exigimos demais do planeta
e que isso tem e terá cada vez mais consequências catastróficas.
No dia 1 de Agosto de 2018, a humanidade esgotou os recursos naturais que o planeta seria capaz de renovar do primeiro ao último dia do ano. Pior: em Portugal, o consumo de recursos naturais ultrapassou a capacidade de regeneração dos ecossistemas para o ano passado no dia 16 de junho.
Este cálculo é realizado anualmente pela Global Footprint Network, comparando o consumo anual total da humanidade – a Pegada Ecológica – com a capacidade da Terra de regenerar recursos naturais renováveis no mesmo ano – a biocapacidade.
Quer isto dizer que, no nosso País, nem sequer chegámos a meio de 2018 antes de começarmos a viver à base de dívidas ao planeta e financiamentos concedidos por um futuro desconhecido. Esta sobrecarga já acontece desde 1970 e tem vindo a aumentar consistentemente.
Aposto um braço e uma perna em como todos os que comeram, no Réveillon, 12 passas com sabor a desejos, pediram ao Ano Novo uma série de condições fundamentais para ter qualidade de vida, mas esqueceram-se de torcer por um planeta – um lar – limpo e saudável.
As emissões de carbono representam 60% da Pegada Ecológica da humanidade e, como consumidores conscientes, podemos contribuir para as reduzir consumindo menos coisas novas, viajando menos de avião e escolhendo meios de transportes mais ecológicos.
Se todos reduzirmos este desperdício para metade podemos mover a data da Sobrecarga da Terra – ou o Earth Overshoot Day – 11 dias. Se o eliminarmos completamente conseguiríamos movê-la 33 dias! E se reduzirmos, também para metade, o consumo de carne, consumindo mais vegetais, ganharemos mais 5 dias, num total de 38.
É que a Terra Velha começa o Ano Novo a correr atrás do prejuízo, e a humanidade tem um empréstimo vitalício que não consegue pagar e que, certamente, lhe custará a casa.
Ambientalista, escritora e oradora para o Desenvolvimento Sustentável, “a minimalista” é consultora para o empreendedorismo e a gestão da mudança em projetos ecológicos. Cofundadora da primeira rede e loja online portuguesa de curadoria sustentável.
Consumo Consciente | Ano Novo, Terra Velha
Por estes dias estamos todos sob o efeito narcótico da magia do Ano Novo, como se com a viragem do calendário viessem outras renovações tornar-nos a vida melhor. Apesar de lhe reconhecer um óbvio sofismo, também eu sou devota crente do potencial transformador do Ano Novo nas nossas intenções, motivações e ações.
Encaramos o final do ano como o fechar de um ciclo que pede uma avaliação e implica o começo de outro. Muitos sentimos o mesmo em torno de aniversários, com o terminar e recomeçar de anos letivos e com o regresso ao trabalho depois das férias de verão.
Estas são tanto alturas de reflexão como de promessa. Por defeito e virtude da condição humana, prometemos a nós próprios sempre mais e melhor. Mais saúde, mais amor, mais dinheiro, mais alegria. Melhores hábitos, melhores escolhas, melhores atitudes, melhores experiências. E pedimos, há quase dois séculos, o mesmo da Terra.
Mais espaço, mais água, mais minerais, mais calor, mais frio, mais chuva, mais petróleo, mais gás natural, mais potência, mais cereais, mais carne, mais peixe, mais chocolate, mais café, mais algodão, mais lã, mais plástico, mais lítio, mais bambu, mais papel, mais reciclagem, mais rápido, mais eficiente, mais produtivo, com mais qualidade.
A maioria de nós não precisará de uma sessão de psicoterapia nem de uma consulta de coaching para saber que exigirmos demasiado de nós próprios é como balançarmos, seguros só por um braço, do topo do precipício para o fracasso.
E não estarei a partilhar uma novidade
ao dizer que exigimos demais do planeta
e que isso tem e terá cada vez mais consequências catastróficas.
No dia 1 de Agosto de 2018, a humanidade esgotou os recursos naturais que o planeta seria capaz de renovar do primeiro ao último dia do ano. Pior: em Portugal, o consumo de recursos naturais ultrapassou a capacidade de regeneração dos ecossistemas para o ano passado no dia 16 de junho.
Este cálculo é realizado anualmente pela Global Footprint Network, comparando o consumo anual total da humanidade – a Pegada Ecológica – com a capacidade da Terra de regenerar recursos naturais renováveis no mesmo ano – a biocapacidade.
Quer isto dizer que, no nosso País, nem sequer chegámos a meio de 2018 antes de começarmos a viver à base de dívidas ao planeta e financiamentos concedidos por um futuro desconhecido. Esta sobrecarga já acontece desde 1970 e tem vindo a aumentar consistentemente.
Aposto um braço e uma perna em como todos os que comeram, no Réveillon, 12 passas com sabor a desejos, pediram ao Ano Novo uma série de condições fundamentais para ter qualidade de vida, mas esqueceram-se de torcer por um planeta – um lar – limpo e saudável.
As emissões de carbono representam 60% da Pegada Ecológica da humanidade e, como consumidores conscientes, podemos contribuir para as reduzir consumindo menos coisas novas, viajando menos de avião e escolhendo meios de transportes mais ecológicos.
Já a comida representa 26% da Pegada Ecológica da humanidade, sendo que desperdiçamos um terço dos alimentos produzidos no mundo, quatro vezes a quantidade necessária para alimentar os 821 milhões de pessoas subnutridas, que enfrentam privação crónica de alimentos.
Se todos reduzirmos este desperdício para metade podemos mover a data da Sobrecarga da Terra – ou o Earth Overshoot Day – 11 dias. Se o eliminarmos completamente conseguiríamos movê-la 33 dias! E se reduzirmos, também para metade, o consumo de carne, consumindo mais vegetais, ganharemos mais 5 dias, num total de 38.
Em 2019, acredito que a resolução
mais importante para a humanidade é atacar,
sem dó nem piedade, o desperdício alimentar.
É que a Terra Velha começa o Ano Novo a correr atrás do prejuízo, e a humanidade tem um empréstimo vitalício que não consegue pagar e que, certamente, lhe custará a casa.
CONSCIÊNCIA
DESPERDICIO
VEGETAIS
Joana Guerra Tadeu
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