Somos seres palavrosos. As pessoas sofrem de um mal dos tempos modernos: são muito palavrosas. Usam muitas palavras para partilhar uma ideia.
Além de abusarem na quantidade de palavras também abusam na quantidade de palavras bonitas, de preferência em inglês, que usam no seu discurso.
Quando procuramos espremer o conteúdo do que ouvimos – da boca dos outros e também da nossa – é comum encontrar pouco sumo.
Falamos durante muito tempo, enchemos os minutos de palavras e ideias que se repetem. Ideias que não são novas, que não acrescentam valor, que não dão um ponto de vista próprio.
Parar para pensar
O trabalho da filosofia que acontece em espaços como as oficinas de perguntas (para crianças, para jovens e para pais e filhos) ou os cafés filosóficos vai de encontro a esta atitude palavrosa.
E antes de falar, anunciamos o que vamos dizer: vou fazer uma pergunta, vou responder, vou dar um exemplo, entre outras.
É um exercício difícil, pois temos de contrariar a nossa impulsividade: aquela que nos faz querer dizer qualquer coisa sobre algo (seja o que for, numa óptica de “o importante é participar”) ou de querer ser o último a fechar um diálogo (gostamos muito de ter razão, verdade seja dita).
Humildade e Síntese
Há que praticar a humildade, pois nem sempre tenho razão, pode haver argumentos que não estou a considerar e que me podem fazer mudar de ideias.
Depois, há que atender à economia das palavras, pois sintetizar uma ideia ajuda-me a olhá-la de uma forma mais clara e objetiva – é como se desbastássemos o acessório do essencial, no nosso discurso.
Como posso observar o pensamento?
Uma técnica que nos ajuda nesta tarefa passa pela escrita das ideias. Ao escrever assumimos o compromisso com o que é dito e vemos o nosso pensamento.
Já me aconteceu escrever uma ideia e depois de a observar, no papel, perceber: “humm não é isto que eu quero dizer”. Perante uma ideia escrita que não corresponde ao que quero defender ou argumentar, não há nada melhor do que parar para questionar o nosso próprio pensamento.
Pensar com os outros, em grupo, pode ajudar: e por isso as experiências do âmbito dos cafés filosóficos ou dos clubes de filosofia são tão importantes.
Para mim esses momentos equivalem a uma ida ao ginásio: neste caso, o ginásio do pensamento. Há que trabalhar a força, mas também a flexibilidade, a resistência e a capacidade de começar de novo, se necessário – e sim, ainda estou a falar de pensamento.
Filosofa Portuguesa, dedica-se à filosofia para crianças e jovens, desde 2008. Consultora, estratega e formadora de marketing digital. É professora na Pós-Graduação em Filosofia para Crianças e Jovens, na Universidade Católica de Lisboa.
Minimalismo no Pensamento | Economia das Palavras
Somos seres palavrosos. As pessoas sofrem de um mal dos tempos modernos: são muito palavrosas. Usam muitas palavras para partilhar uma ideia.
Além de abusarem na quantidade de palavras também abusam na quantidade de palavras bonitas, de preferência em inglês, que usam no seu discurso.
Quando procuramos espremer o conteúdo do que ouvimos – da boca dos outros e também da nossa – é comum encontrar pouco sumo.
Falamos durante muito tempo, enchemos os minutos de palavras e ideias que se repetem. Ideias que não são novas, que não acrescentam valor, que não dão um ponto de vista próprio.
Parar para pensar
O trabalho da filosofia que acontece em espaços como as oficinas de perguntas (para crianças, para jovens e para pais e filhos) ou os cafés filosóficos vai de encontro a esta atitude palavrosa.
Procuramos trabalhar o pensamento, as ideias. Para tal, procuramos economizar palavras, escolhendo-as bem antes de as dizer. Paramos para pensar.
E antes de falar, anunciamos o que vamos dizer: vou fazer uma pergunta, vou responder, vou dar um exemplo, entre outras.
É um exercício difícil, pois temos de contrariar a nossa impulsividade: aquela que nos faz querer dizer qualquer coisa sobre algo (seja o que for, numa óptica de “o importante é participar”) ou de querer ser o último a fechar um diálogo (gostamos muito de ter razão, verdade seja dita).
Humildade e Síntese
Há que praticar a humildade, pois nem sempre tenho razão, pode haver argumentos que não estou a considerar e que me podem fazer mudar de ideias.
Depois, há que atender à economia das palavras, pois sintetizar uma ideia ajuda-me a olhá-la de uma forma mais clara e objetiva – é como se desbastássemos o acessório do essencial, no nosso discurso.
Como posso observar o pensamento?
Uma técnica que nos ajuda nesta tarefa passa pela escrita das ideias. Ao escrever assumimos o compromisso com o que é dito e vemos o nosso pensamento.
Já me aconteceu escrever uma ideia e depois de a observar, no papel, perceber: “humm não é isto que eu quero dizer”. Perante uma ideia escrita que não corresponde ao que quero defender ou argumentar, não há nada melhor do que parar para questionar o nosso próprio pensamento.
Pensar com os outros, em grupo, pode ajudar: e por isso as experiências do âmbito dos cafés filosóficos ou dos clubes de filosofia são tão importantes.
Para mim esses momentos equivalem a uma ida ao ginásio: neste caso, o ginásio do pensamento. Há que trabalhar a força, mas também a flexibilidade, a resistência e a capacidade de começar de novo, se necessário – e sim, ainda estou a falar de pensamento.
PENSAMENTO
SINTESE
PALAVRAS
Joana Rita Sousa
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