Inquieta-me o quão longe estamos de atingir os mínimos olímpicos enquanto sociedade.
Inquieta-me que ainda não exista país nenhum que possa afirmar garantir os mínimos olímpicos a todos os cidadãos que dele fazem parte.
Para que possamos, de facto, ir “mais além” e elevar-nos como um todo, é preciso que existam condições mínimas, transversais e igualmente garantidas para todos. Apenas aí poderemos falar de verdadeira meritocracia. Para que este cenário venha a ser possível — uma igualdade transversal para todos — é importante pensar e refletir sobre a intersecção entre as diferentes camadas de discriminação, e o impacto das diferentes desigualdades sociais.
É impossível falar de direitos das mulheres
sem falar de papéis de género,
e é bizarro falar de papéis de género
sem questionar a estigmatização da comunidade LGBTI+.
É inconcebível falar de tudo isto, bem como de racismo, da luta pela justiça climática, de migração, ou de refugiados, sem colocar em causa as raízes e os sistemas que viabilizam e impulsionam as desigualdades de classe social.
É até caricato vangloriar-nos dos feitos recentes de Jorge Fonseca, Patrícia Mamona, Neemias Queta e Pedro Pichardo, sem que exista o mínimo de preocupação da nossa parte em mudar as condições que, estruturalmente, não permitem que existam mais Jorges e Patrícias.
Pedro Pichardo migrou de Cuba para Portugal. Jorge Fonseca despertou para o judo na Damaia, Amadora. Patrícia Mamona treina desde os 12 na Juventude Operária de Monte Abraão, em Queluz. Neemias Queta é natural do Vale da Amoreira, na zona da Baixa da Banheira.
Lia hoje nas redes sociais um post da Catarina Marques Rodrigues, jornalista da RTP: “Sabemos o quão as crianças são alvo de bullying, racismo, de comentários sobre o peso, sobre as origens sociais. Sabemos que há divisões que são feitas entre quem pertence a famílias com posses e quem não pertence. Sabemos os comentários que existem sobre a identidade, sobre a cor da pele, sobre aquilo que os outros acham que alguns não podem fazer. Mas fazem. Todos os dias. Que bonita é a diversidade.”
A diversidade é mesmo muito bonita, e poderosa.
A diversidade, quando potenciada, pode ser uma das coisas mais poderosas do mundo.
Mas para a potenciarmos e celebrarmos
temos de rever os obstáculos e bloqueios
que enquanto sociedade permitimos que se continuem a repetir.
As mulheres representam mais de 70 % da força de trabalho global na saúde, mas ocupam apenas 25 % dos cargos de chefia.
Existem opções de políticas viáveis e eficazes. Precisamos de implementar políticas de género que desafiem as causas subjacentes da discrepância de liderança nos profissionais de saúde.
A segregação aumentou na área de Lisboa. Arrendar casa também está mais caro.
O PÚBLICO conduziu um pequeno estudo e resume: “três dos cinco supostos senhorios não trataram clientes de forma igual: há uma preferência óbvia em arrendar casa a brancos.”
Nenhuma destas frentes se irá resolver sem um entendimento mais profundo dos problemas e do que está na sua raiz. Eu percebo que por vezes tudo isto pode parecer demasiado complexo para conseguirmos (sequer!) ter algum impacto.
Ainda assim, entender a sua interseccionalidade (ou seja, a sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação), já é um excelente mínimo olímpico para que, enquanto sociedade, possamos desenhar um futuro melhor para todos.
É o início de uma jornada que podemos e devemos fazer em conjunto. É a verdadeira oportunidade de celebrar a diversidade. Sem deixar ninguém para trás.
Activista pelos Direitos Humanos, Feminismo e Media (Embaixadora da HeForShe Portugal, Co-Directora da Sathyam Project na Índia e Global Shaper do Fórum Económico Mundial).
Mínimos Olímpicos
Inquieta-me o quão longe estamos de atingir os mínimos olímpicos enquanto sociedade.
Inquieta-me que ainda não exista país nenhum que possa afirmar garantir os mínimos olímpicos a todos os cidadãos que dele fazem parte.
Para que possamos, de facto, ir “mais além” e elevar-nos como um todo, é preciso que existam condições mínimas, transversais e igualmente garantidas para todos. Apenas aí poderemos falar de verdadeira meritocracia. Para que este cenário venha a ser possível — uma igualdade transversal para todos — é importante pensar e refletir sobre a intersecção entre as diferentes camadas de discriminação, e o impacto das diferentes desigualdades sociais.
É impossível falar de direitos das mulheres
sem falar de papéis de género,
e é bizarro falar de papéis de género
sem questionar a estigmatização da comunidade LGBTI+.
É inconcebível falar de tudo isto, bem como de racismo, da luta pela justiça climática, de migração, ou de refugiados, sem colocar em causa as raízes e os sistemas que viabilizam e impulsionam as desigualdades de classe social.
É até caricato vangloriar-nos dos feitos recentes de Jorge Fonseca, Patrícia Mamona, Neemias Queta e Pedro Pichardo, sem que exista o mínimo de preocupação da nossa parte em mudar as condições que, estruturalmente, não permitem que existam mais Jorges e Patrícias.
Pedro Pichardo migrou de Cuba para Portugal. Jorge Fonseca despertou para o judo na Damaia, Amadora. Patrícia Mamona treina desde os 12 na Juventude Operária de Monte Abraão, em Queluz. Neemias Queta é natural do Vale da Amoreira, na zona da Baixa da Banheira.
Lia hoje nas redes sociais um post da Catarina Marques Rodrigues, jornalista da RTP: “Sabemos o quão as crianças são alvo de bullying, racismo, de comentários sobre o peso, sobre as origens sociais. Sabemos que há divisões que são feitas entre quem pertence a famílias com posses e quem não pertence. Sabemos os comentários que existem sobre a identidade, sobre a cor da pele, sobre aquilo que os outros acham que alguns não podem fazer. Mas fazem. Todos os dias. Que bonita é a diversidade.”
A diversidade é mesmo muito bonita, e poderosa.
A diversidade, quando potenciada, pode ser uma das coisas mais poderosas do mundo.
Mas para a potenciarmos e celebrarmos
temos de rever os obstáculos e bloqueios
que enquanto sociedade permitimos que se continuem a repetir.
As mulheres representam mais de 70 % da força de trabalho global na saúde, mas ocupam apenas 25 % dos cargos de chefia.
Existem opções de políticas viáveis e eficazes. Precisamos de implementar políticas de género que desafiem as causas subjacentes da discrepância de liderança nos profissionais de saúde.
A segregação aumentou na área de Lisboa. Arrendar casa também está mais caro.
O PÚBLICO conduziu um pequeno estudo e resume: “três dos cinco supostos senhorios não trataram clientes de forma igual: há uma preferência óbvia em arrendar casa a brancos.”
Segundo o 2.o Inquérito LGBTI+ da Agência para os Direitos Fundamentais da União Europeia — o estudo de maior envergadura realizado com pessoas LGBTI+ na União Europeia —, em média 40 % das pessoas LGBTI+ admitem ter sofrido discriminação.
Infelizmente, poderíamos continuar.
Nenhuma destas frentes se irá resolver sem um entendimento mais profundo dos problemas e do que está na sua raiz. Eu percebo que por vezes tudo isto pode parecer demasiado complexo para conseguirmos (sequer!) ter algum impacto.
Ainda assim, entender a sua interseccionalidade (ou seja, a sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação), já é um excelente mínimo olímpico para que, enquanto sociedade, possamos desenhar um futuro melhor para todos.
É o início de uma jornada que podemos e devemos fazer em conjunto. É a verdadeira oportunidade de celebrar a diversidade. Sem deixar ninguém para trás.
DIVERSIDADE
INTERSECCIONALIDADE
EQUIDADE
Carolina Pereira
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