Somos o que comemos. Quem nunca ouviu isto? Seja porque afetam a nossa saúde, a nossa alegria e bem-estar, ou a nossa carteira, os alimentos são bem mais que combinações de nutrientes: refletem também a nossa capacidade e conhecimento no momento de fazer escolhas.
Estas escolhas têm sempre impacto no ambiente. Os alimentos precisam de solo e de água para serem produzidos, e enormes quantidades de pesticidas e fertilizantes são aplicados na sua produção.
Dado o crescimento da população mundial e do consumo de carne, a expansão das áreas de cultivo e de pastagem para produzir alimentos é crescente.
Infelizmente, estas áreas de cultivo e de pastagens são frequentemente conseguidas à custa da desflorestação de florestas tropicais e da conversão de habitats. Ou seja, deitam-se abaixo árvores, arbustos e as suas riquíssimas comunidades biológicas tropicais e destroem-se prados e zonas húmidas em países em desenvolvimento para alimentar o apetite voraz dos países desenvolvidos…
A União Europeia é a 2.ª maior responsável mundial
pela desflorestação associada ao comércio internacional,
logo atrás da China e à frente da populosa Índia.
Isto é, além da desflorestação e destruição de habitats “entre portas”, a UE importa produtos de outros países contribuindo para esta problemática “fora de portas”. Os principais produtos importados com maior impacto na desflorestação sãoa soja, o óleo de palma e a carne de bovino, seguindo-se os produtos de base florestal, o cacau e o café.
Naturalmente, nem todos têm como destino a alimentação. Em Portugal, a soja é muito usada nas rações de bovinos, e o óleo de palma destina-se mais à indústria cosmética que a substituir o nosso tradicional azeite.
Os países da UE têm a obrigação de cuidar da biodiversidade dentro das suas fronteiras, mas também de acautelar que os seus padrões de consumo não estão associados à destruição da biodiversidade noutras geografias.
Em breve, a UE irá apresentar uma proposta legislativa para lidar com este problema. É uma oportunidade ímpar para reduzir a pegada ecológica do seu consumo e, ao mesmo tempo, impedir que os produtos que contribuem para a destruição da natureza e que violam direitos humanos entrem nos mercados europeus.
Mas enquanto isso não acontece, que podemos nós fazer
enquanto cidadãos e consumidores?
Várias coisas!
Podemos recordar como os alimentos são uma dádiva da natureza e que sem ela não teríamos a diversidade de produtos que nos nutrem fisicamente e que temos gosto em cozinhar, saborear e partilhar.
Podemos retribuir esta dádiva à natureza e seguir uma dieta que respeita o planeta, isto é, uma alimentação saudável e nutritiva dentro dos limites planetários.
Tendo em conta a dieta média em Portugal, as mudanças que a natureza e a nossa saúde requerem estão ao alcance da maioria. Comer menores quantidades; consumir mais leguminosas em substituição de carnes vermelhas, aves, laticínios e ovos; e dar preferência a alimentos locais, sazonais e biológicos. Bastaria comermos de forma diferente para que a mortalidade prematura fosse reduzida até 30%.
Podemos dar a conhecer ao nosso governo que não queremos no nosso prato a destruição da natureza, e pedir-lhe que consiga junto da UE que esta adote uma legislação exigente para reduzir a desflorestação e conversão de habitats associados a vários produtos importados.
Podemos ainda — através de cartas ou das redes sociais — encorajar as empresas que integram estes produtos importados nas suas cadeias de abastecimento a apoiar também uma legislação exigente. Isto é particularmente importante para aquelas que voluntariamente já consideram várias das preocupações dos consumidores com a sustentabilidade dos produtos importados.
Somos o que comemos e isso dá-nos um poder imenso. Não só sobre a nossa saúde, mas também sobre a saúde do nosso planeta.
Bióloga Marinha de formação, com a sustentabilidade como missão. Depois de um doutoramento de viagens alucinantes e um longo percurso na sustentabilidade marinha, hoje é Directora de Políticas e Conservação na ANP | WWF.
Somos o que Comemos
Somos o que comemos. Quem nunca ouviu isto? Seja porque afetam a nossa saúde, a nossa alegria e bem-estar, ou a nossa carteira, os alimentos são bem mais que combinações de nutrientes: refletem também a nossa capacidade e conhecimento no momento de fazer escolhas.
Estas escolhas têm sempre impacto no ambiente. Os alimentos precisam de solo e de água para serem produzidos, e enormes quantidades de pesticidas e fertilizantes são aplicados na sua produção.
Dado o crescimento da população mundial e do consumo de carne, a expansão das áreas de cultivo e de pastagem para produzir alimentos é crescente.
Infelizmente, estas áreas de cultivo e de pastagens são frequentemente conseguidas à custa da desflorestação de florestas tropicais e da conversão de habitats. Ou seja, deitam-se abaixo árvores, arbustos e as suas riquíssimas comunidades biológicas tropicais e destroem-se prados e zonas húmidas em países em desenvolvimento para alimentar o apetite voraz dos países desenvolvidos…
A União Europeia é a 2.ª maior responsável mundial
pela desflorestação associada ao comércio internacional,
logo atrás da China e à frente da populosa Índia.
Isto é, além da desflorestação e destruição de habitats “entre portas”, a UE importa produtos de outros países contribuindo para esta problemática “fora de portas”. Os principais produtos importados com maior impacto na desflorestação são a soja, o óleo de palma e a carne de bovino, seguindo-se os produtos de base florestal, o cacau e o café.
Naturalmente, nem todos têm como destino a alimentação. Em Portugal, a soja é muito usada nas rações de bovinos, e o óleo de palma destina-se mais à indústria cosmética que a substituir o nosso tradicional azeite.
Os países da UE têm a obrigação de cuidar da biodiversidade dentro das suas fronteiras, mas também de acautelar que os seus padrões de consumo não estão associados à destruição da biodiversidade noutras geografias.
Em breve, a UE irá apresentar uma proposta legislativa para lidar com este problema. É uma oportunidade ímpar para reduzir a pegada ecológica do seu consumo e, ao mesmo tempo, impedir que os produtos que contribuem para a destruição da natureza e que violam direitos humanos entrem nos mercados europeus.
Mas enquanto isso não acontece, que podemos nós fazer
enquanto cidadãos e consumidores?
Várias coisas!
Podemos recordar como os alimentos são uma dádiva da natureza e que sem ela não teríamos a diversidade de produtos que nos nutrem fisicamente e que temos gosto em cozinhar, saborear e partilhar.
Podemos retribuir esta dádiva à natureza e seguir uma dieta que respeita o planeta, isto é, uma alimentação saudável e nutritiva dentro dos limites planetários.
Tendo em conta a dieta média em Portugal, as mudanças que a natureza e a nossa saúde requerem estão ao alcance da maioria. Comer menores quantidades; consumir mais leguminosas em substituição de carnes vermelhas, aves, laticínios e ovos; e dar preferência a alimentos locais, sazonais e biológicos. Bastaria comermos de forma diferente para que a mortalidade prematura fosse reduzida até 30%.
Podemos dar a conhecer ao nosso governo que não queremos no nosso prato a destruição da natureza, e pedir-lhe que consiga junto da UE que esta adote uma legislação exigente para reduzir a desflorestação e conversão de habitats associados a vários produtos importados.
Podemos ainda — através de cartas ou das redes sociais — encorajar as empresas que integram estes produtos importados nas suas cadeias de abastecimento a apoiar também uma legislação exigente. Isto é particularmente importante para aquelas que voluntariamente já consideram várias das preocupações dos consumidores com a sustentabilidade dos produtos importados.
Somos o que comemos e isso dá-nos um poder imenso. Não só sobre a nossa saúde, mas também sobre a saúde do nosso planeta.
ESCOLHAS
IMPACTO
EQUILÍBRIO
Catarina Grilo
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