Serão estas “moedas” menos arriscadas do que as tradicionais?
Provavelmente não. Pelo contrário, elas encerram em si o potencial de nos elevarem aos céus ou de nos fazerem descer à maior escuridão.
As “moedas” que contam são assim mesmo, autênticos “roller coasters” emocionais que fazem estremecer as nossas entranhas, que perturbam o nosso sono, que aceleram o sangue nas nossas veias e artérias mas que, por tudo isso, adquirem importância e ocupam espaço e volume dentro de nós.
Na finitude do nosso tempo parecem caber muitas coisas mas, na verdade, não são assim tantas. Espremendo bem os nossos dias, meses e anos, entre o sono, trabalho, refeições, deslocações, que tempo resta? O que fazemos dele?
Por exemplo, quanto tempo dedicamos aos nossos amigos?
Eis o mote para a segunda “moeda”: A amizade. Vamos a isso.
A Amizade
Nunca como nos dias de hoje, o termo “amizade” foi tão banalizado, tão esvaziado do seu significado primordial.
Todos têm milhares de “amigos”, com quem partilham os seus gostos e episódios da sua vida e com quem, na maioria das vezes, nunca estiveram nem nunca falaram.
A amizade virtual, criada e alimentada nas redes sociais, é um fenómeno que me transcende e que tem contribuído apenas para gerar mais e mais solidão e para deixar de lado os amigos reais, os que realmente interessam e merecem o nosso tempo.
Não tiro o mérito a estas redes. Em muitos casos, até, elas podem permitir recuperar amizades antigas que pensávamos perdidas, diluídas pelo tempo e pela distância, e isso antes era impensável.
Mas a regra não é essa e as pessoas rodeiam-se de “seguidores”, de “amigos” a quem sentem necessidade de conquistar a sua atenção, os seus “likes”, os seus comentários.
Só se vive estando online.
Só se vive sendo visto, lido e comentado.
Só se vive para pessoas que mal se conhece mas cujo reconhecimento passa a adquirir uma importância vital. E não existe solidão maior do que essa.
Quanto amigos temos? A sério, quantos?
Comecemos um pouco atrás. O que é a amizade?
A amizade corresponde, na sua essência, a uma relação afectiva entre duas pessoas sem conotações românticas e/ou sexuais. Ela subentende um profundo conhecimento mútuo, lealdade, honestidade e um genuíno espírito de altruísmo, no sentido de que, pelos nossos amigos, somos capazes de sacrificar os nossos interesses e gostos quando tal se justifica.
A amizade não requer coincidência de gostos ou de opiniões, pode até alimentar-se dessas diferenças.
A amizade não dispensa a crítica mas abomina o julgamento. Requer confiança e definha na mentira. Não sufoca. Insufla oxigénio e vida.
Como começa uma amizade? Que mecanismos lhe estão subjacentes? Pura empatia, instinto de sobrevivência em contextos complexos, fruto de contactos persistentes ao longo do trabalho?
Pense nos seus amigos. Muitos acompanham-no desde a infância ou desde a sua juventude, e esse é realmente um período propício à criação de amizades sólidas e duradouras que resistem à erosão do tempo, provavelmente porque a nossa “bagagem emocional” é mais leve, as nossas defesas são menores, o nosso coração tem as portas mais escancaradas.
Ao longo da vida vamo-nos fechando, entregamo-nos menos e, como tal, as amizades são mais superficiais, mais frágeis, mais circunstanciais. E, em muitos dos casos, não o são de todo.
Muitas vezes, aqueles que pensamos serem
nossos grandes amigos
revelam-se grandes desconhecidos
à primeira contrariedade…
Estará a amizade sobrevalorizada? Existe ainda lugar para esta noção clássica de amizade? Ou temos de nos contentar com relações cordiais, afáveis e divertidas que vão trespassando a nossa vida em função do que fazemos e onde estamos mas que falham na “hora da verdade”?
Como sempre, não existe uma resposta única. Os amigos verdadeiros são sempre poucos, muito poucos, e a velocidade dos dias inviabiliza a sua presença regular na nossa vida.
As pessoas com quem nos cruzamos diariamente são igualmente importantes. Mesmo sem serem nossas amigas, podemos estabelecer pontes e partilhar com elas os nossos problemas e as nossa alegrias. E podemos com elas aprender e crescer.
Tudo isso será melhor a uma existência confinada a um ecrã, a uma legião de “amigos”, a um convívio paradoxalmente e profundamente solitário.
Recordo sempre o épico texto de Mary Schmich de 1997 imortalizado no filme “Romeo + Juliet” realizado por Baz Luhrmann. Nesse texto, “Everybody’s Free (to Wear Sunscreen)”, podemos ler:
“Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on
work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle because the older you get
the more you need the people you knew when you were young”
É verdade que as amizades verdadeiras não esmorecem e são indestrutíveis. Por esse motivo, tendemos a dá-las por adquiridas e “investimos” pouco nelas.
Mas bem sabemos que quando estamos junto dos nossos (poucos) amigos a vida ganha mais vida, o coração dança a outro ritmo e tudo faz mais sentido.
Eis, pois, uma “moeda” rara e preciosa que não merece estar fechada num qualquer cofre mas ser contemplada e desfrutada sem restrições.
Bolsa de Valores | A Amizade
Continuemos a percorrer o nosso índice bolsista, a procurar as melhores “moedas”, aquelas onde vale a pena investir o nosso tempo, o nosso coração, a nossa vida.
Serão estas “moedas” menos arriscadas do que as tradicionais?
Provavelmente não. Pelo contrário, elas encerram em si o potencial de nos elevarem aos céus ou de nos fazerem descer à maior escuridão.
As “moedas” que contam são assim mesmo, autênticos “roller coasters” emocionais que fazem estremecer as nossas entranhas, que perturbam o nosso sono, que aceleram o sangue nas nossas veias e artérias mas que, por tudo isso, adquirem importância e ocupam espaço e volume dentro de nós.
Na finitude do nosso tempo parecem caber muitas coisas mas, na verdade, não são assim tantas. Espremendo bem os nossos dias, meses e anos, entre o sono, trabalho, refeições, deslocações, que tempo resta? O que fazemos dele?
Por exemplo, quanto tempo dedicamos aos nossos amigos?
Eis o mote para a segunda “moeda”: A amizade. Vamos a isso.
A Amizade
Nunca como nos dias de hoje, o termo “amizade” foi tão banalizado, tão esvaziado do seu significado primordial.
Todos têm milhares de “amigos”, com quem partilham os seus gostos e episódios da sua vida e com quem, na maioria das vezes, nunca estiveram nem nunca falaram.
A amizade virtual, criada e alimentada nas redes sociais, é um fenómeno que me transcende e que tem contribuído apenas para gerar mais e mais solidão e para deixar de lado os amigos reais, os que realmente interessam e merecem o nosso tempo.
Não tiro o mérito a estas redes. Em muitos casos, até, elas podem permitir recuperar amizades antigas que pensávamos perdidas, diluídas pelo tempo e pela distância, e isso antes era impensável.
Mas a regra não é essa e as pessoas rodeiam-se de “seguidores”, de “amigos” a quem sentem necessidade de conquistar a sua atenção, os seus “likes”, os seus comentários.
Só se vive estando online.
Só se vive sendo visto, lido e comentado.
Só se vive para pessoas que mal se conhece mas cujo reconhecimento passa a adquirir uma importância vital. E não existe solidão maior do que essa.
Quanto amigos temos? A sério, quantos?
Comecemos um pouco atrás. O que é a amizade?
A amizade corresponde, na sua essência, a uma relação afectiva entre duas pessoas sem conotações românticas e/ou sexuais. Ela subentende um profundo conhecimento mútuo, lealdade, honestidade e um genuíno espírito de altruísmo, no sentido de que, pelos nossos amigos, somos capazes de sacrificar os nossos interesses e gostos quando tal se justifica.
A amizade não requer coincidência de gostos ou de opiniões, pode até alimentar-se dessas diferenças.
A amizade não dispensa a crítica mas abomina o julgamento. Requer confiança e definha na mentira. Não sufoca. Insufla oxigénio e vida.
Como começa uma amizade? Que mecanismos lhe estão subjacentes? Pura empatia, instinto de sobrevivência em contextos complexos, fruto de contactos persistentes ao longo do trabalho?
Pense nos seus amigos. Muitos acompanham-no desde a infância ou desde a sua juventude, e esse é realmente um período propício à criação de amizades sólidas e duradouras que resistem à erosão do tempo, provavelmente porque a nossa “bagagem emocional” é mais leve, as nossas defesas são menores, o nosso coração tem as portas mais escancaradas.
Ao longo da vida vamo-nos fechando, entregamo-nos menos e, como tal, as amizades são mais superficiais, mais frágeis, mais circunstanciais. E, em muitos dos casos, não o são de todo.
Muitas vezes, aqueles que pensamos serem
nossos grandes amigos
revelam-se grandes desconhecidos
à primeira contrariedade…
Estará a amizade sobrevalorizada? Existe ainda lugar para esta noção clássica de amizade? Ou temos de nos contentar com relações cordiais, afáveis e divertidas que vão trespassando a nossa vida em função do que fazemos e onde estamos mas que falham na “hora da verdade”?
Como sempre, não existe uma resposta única. Os amigos verdadeiros são sempre poucos, muito poucos, e a velocidade dos dias inviabiliza a sua presença regular na nossa vida.
As pessoas com quem nos cruzamos diariamente são igualmente importantes. Mesmo sem serem nossas amigas, podemos estabelecer pontes e partilhar com elas os nossos problemas e as nossa alegrias. E podemos com elas aprender e crescer.
Tudo isso será melhor a uma existência confinada a um ecrã, a uma legião de “amigos”, a um convívio paradoxalmente e profundamente solitário.
Recordo sempre o épico texto de Mary Schmich de 1997 imortalizado no filme “Romeo + Juliet” realizado por Baz Luhrmann. Nesse texto, “Everybody’s Free (to Wear Sunscreen)”, podemos ler:
“Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on
work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle because the older you get
the more you need the people you knew when you were young”
É verdade que as amizades verdadeiras não esmorecem e são indestrutíveis. Por esse motivo, tendemos a dá-las por adquiridas e “investimos” pouco nelas.
Mas bem sabemos que quando estamos junto dos nossos (poucos) amigos a vida ganha mais vida, o coração dança a outro ritmo e tudo faz mais sentido.
Eis, pois, uma “moeda” rara e preciosa que não merece estar fechada num qualquer cofre mas ser contemplada e desfrutada sem restrições.
Vai ver que não se desvaloriza…
ESSÊNCIA
JULGAMENTO
CONFIANÇA
Luís Gouveia Andrade
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