Como médico, seria inevitável colocar nesta lista de “moedas” uma que é, provavelmente, a mais importante de todas: a saúde.
Essa posição em primeiro lugar nesta hierarquia de valores, apesar de discutível, resulta, na minha opinião, do seu papel central na nossa vida.
De facto, sem saúde, todos os restantes valores se desmoronam, tudo o resto empalidece e tudo passa para segundo plano.
Já o inverso não se verifica, ou seja, quando somos saudáveis tendemos a desvalorizar essa enorme bênção, dando-a como adquirida e inquestionável e só quando a doença ou a dor nos apoquentam é que reconhecemos o quanto vale a saúde.
O mesmo acontece quando alguém que nos é próximo adoece. Nesses momentos vemos também a saúde com outros olhos mas, na verdade, a nossa relação com ela é muito injusta.
Quando temos saúde nem damos conta, quando ela escapa, tudo o resto fica para trás.
Falar de saúde é, por isso, importante. Afinal a saúde é o nosso bem mais precioso. Dizia-me um paciente recentemente: “se temos saúde, somos ricos”. E é bem verdade…
Tendo saúde, tudo o resto se vai compondo e resolvendo. Sem ela nada conta.
Escreve a OMS que “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade.”
E lido mal com esta definição porque, se tomada à letra, coloca-nos a todos na condição de doentes ou enfermos. Concordarão que é impossível, seja para quem for, estar neste estado de completo bem-estar nos planos físico, mental e social em simultâneo.
Somos, por definição, exigentes, insatisfeitos, a vida coloca-nos constantemente desafios e obstáculos e, nesse sentido, esta definição idílica de saúde tem pouca (ou nenhuma) ligação à realidade e faz de nós eternos deficitários em saúde.
Entendo que esta definição terá feito todo o sentido na época em que foi formulada e pretendia transmitir uma noção da importância crucial da saúde no momento em que a OMS foi constituída em Nova Iorque mas, convenhamos, na busca de uma definição tão abrangente, ela acabou por extravasar aquilo que é o quotidiano, aquilo que é o mundo real, aquilo que é a aceitável e expectável para qualquer um de nós.
Proponho, pois, uma visão mais utilitária da saúde assente em 3 pilares tangíveis e que se podem coadunar com a nossa vida.
1 | A nossa genética
Aqui não podemos fazer grande coisa, para lá de a conhecer.
Os rastreios são relevantes quando existe uma história familiar sugestiva de um risco acrescido e, num futuro próximo, a quantificação do risco de doença com base em marcadores genéticos vai ter um papel crescente na prevenção.
Mas, mesmo quando a genética parece menos favorável, o modo como conduzimos a nossa vida e deixamos o ambiente influenciá-la pode moldar esse risco, diminuindo-o ou… aumentando-o.
2 | O nosso estilo de vida
Sobre isto, temos quase toda a informação. A importância de uma dieta equilibrada, do exercício físico, da manutenção de um peso saudável, de não fumar, de não consumir álcool em excesso, da amamentação durante os primeiros 6 meses de vida e da realização de consultas médicas regulares é bem conhecida de todos.
As campanhas que incidem sobre estas recomendações são frequentes e os benefícios são enormes.
Estas recomendações parecem lugares-comuns (e são-no, de facto) mas, na verdade, elas resultaram da análise de mais de 7.000 estudos ao longo de 5 anos e deram origem a um documento com mais de 500 páginas, publicado em 2007 e que é suportado pelas principais organizações de saúde de todo o mundo.
De acordo com esse documento, estas medidas permitem reduzir de modo significativo a incidência dos principais tipos de cancro.
E não se trata somente de prevenir o cancro ou de estarmos sempre com esse receio sobre nós. Comer bem, não fumar, praticar exercício físico permitem-nos aproveitar melhor tudo o que a vida tem para nos oferecer. Quando nos sentimos em forma, ágeis, com energia, os dias fluem com mais prazer e as dificuldades parecem encolher.
Aqui, como em tudo, os fundamentalismos são perigosos e pouco inteligentes. Existe, deve sempre existir, espaço para a transgressão, para o excesso pontual. Num contexto de bom-senso e de moderação esses desvios terão sempre efeitos negligenciáveis.
3 | A nossa postura perante a vida
O nosso tempo de vida é limitado. A Medicina tem conseguido prolongá-lo mas, mesmo assim, ele é fugaz e escapa-nos entre os dedos.
Cada um de nós terá um entendimento diferente do valor da vida, do valor da sua vida e do modo como a quer viver mas, como regra, desejamos todos viver muito tempo e o melhor possível.
Neste “melhor possível” cabem inúmeras variantes, diferentes verdades, diferentes valores que se intersectam com os das outras pessoas que coexistem nos nossos diferentes espaços.
Ter a noção do valor da nossa vida, do seu valor para os que nos estimam e do seu valor (custo) para a sociedade onde nos inserimos é também importante e uma medida da nossa responsabilidade moral e social.
Sendo certo que o nosso corpo nos pertence,
temos o dever de o cuidar e de não transmitir
o ónus desse cuidado a terceiros.
Os cuidados de saúde, cada vez mais assentes em plataformas tecnológicas, têm um custo elevadíssimo que, em última análise, se repercute em todos. Como se costuma dizer, a saúde não tem valor. Mas tem um preço e devemos nunca esquecer esse facto…
Em resumo:
Viver de forma saudável não deve ter como objectivo principal evitar a doença, mas sim, criar condições para uma vida mais longa e mais feliz.
Viver de forma saudável é a melhor forma de prestarmos homenagem ao nosso corpo, aos que amamos e a nós mesmos.
Viver de forma saudável é, no fundo, a própria definição de viver. E convenhamos, prefiro esta à da OMS…
Bolsa de Valores | A Saúde
Como médico, seria inevitável colocar nesta lista de “moedas” uma que é, provavelmente, a mais importante de todas: a saúde.
Essa posição em primeiro lugar nesta hierarquia de valores, apesar de discutível, resulta, na minha opinião, do seu papel central na nossa vida.
De facto, sem saúde, todos os restantes valores se desmoronam, tudo o resto empalidece e tudo passa para segundo plano.
Já o inverso não se verifica, ou seja, quando somos saudáveis tendemos a desvalorizar essa enorme bênção, dando-a como adquirida e inquestionável e só quando a doença ou a dor nos apoquentam é que reconhecemos o quanto vale a saúde.
O mesmo acontece quando alguém que nos é próximo adoece. Nesses momentos vemos também a saúde com outros olhos mas, na verdade, a nossa relação com ela é muito injusta.
Quando temos saúde nem damos conta, quando ela escapa, tudo o resto fica para trás.
Falar de saúde é, por isso, importante. Afinal a saúde é o nosso bem mais precioso. Dizia-me um paciente recentemente: “se temos saúde, somos ricos”. E é bem verdade…
Tendo saúde, tudo o resto se vai compondo e resolvendo. Sem ela nada conta.
Entremos, pois, na nossa terceira moeda.
A Saúde
Confesso que lido mal com a definição de Saúde proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Julho de 1946 e em vigor desde 7 de Abril de 1948, sem qualquer alteração desde então.
Escreve a OMS que “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade.”
E lido mal com esta definição porque, se tomada à letra, coloca-nos a todos na condição de doentes ou enfermos. Concordarão que é impossível, seja para quem for, estar neste estado de completo bem-estar nos planos físico, mental e social em simultâneo.
Somos, por definição, exigentes, insatisfeitos, a vida coloca-nos constantemente desafios e obstáculos e, nesse sentido, esta definição idílica de saúde tem pouca (ou nenhuma) ligação à realidade e faz de nós eternos deficitários em saúde.
Entendo que esta definição terá feito todo o sentido na época em que foi formulada e pretendia transmitir uma noção da importância crucial da saúde no momento em que a OMS foi constituída em Nova Iorque mas, convenhamos, na busca de uma definição tão abrangente, ela acabou por extravasar aquilo que é o quotidiano, aquilo que é o mundo real, aquilo que é a aceitável e expectável para qualquer um de nós.
Proponho, pois, uma visão mais utilitária da saúde assente em 3 pilares tangíveis e que se podem coadunar com a nossa vida.
1 | A nossa genética
Aqui não podemos fazer grande coisa, para lá de a conhecer.
Os rastreios são relevantes quando existe uma história familiar sugestiva de um risco acrescido e, num futuro próximo, a quantificação do risco de doença com base em marcadores genéticos vai ter um papel crescente na prevenção.
Mas, mesmo quando a genética parece menos favorável, o modo como conduzimos a nossa vida e deixamos o ambiente influenciá-la pode moldar esse risco, diminuindo-o ou… aumentando-o.
2 | O nosso estilo de vida
Sobre isto, temos quase toda a informação. A importância de uma dieta equilibrada, do exercício físico, da manutenção de um peso saudável, de não fumar, de não consumir álcool em excesso, da amamentação durante os primeiros 6 meses de vida e da realização de consultas médicas regulares é bem conhecida de todos.
As campanhas que incidem sobre estas recomendações são frequentes e os benefícios são enormes.
Estas recomendações parecem lugares-comuns (e são-no, de facto) mas, na verdade, elas resultaram da análise de mais de 7.000 estudos ao longo de 5 anos e deram origem a um documento com mais de 500 páginas, publicado em 2007 e que é suportado pelas principais organizações de saúde de todo o mundo.
De acordo com esse documento, estas medidas permitem reduzir de modo significativo a incidência dos principais tipos de cancro.
E não se trata somente de prevenir o cancro ou de estarmos sempre com esse receio sobre nós. Comer bem, não fumar, praticar exercício físico permitem-nos aproveitar melhor tudo o que a vida tem para nos oferecer. Quando nos sentimos em forma, ágeis, com energia, os dias fluem com mais prazer e as dificuldades parecem encolher.
Aqui, como em tudo, os fundamentalismos são perigosos e pouco inteligentes. Existe, deve sempre existir, espaço para a transgressão, para o excesso pontual. Num contexto de bom-senso e de moderação esses desvios terão sempre efeitos negligenciáveis.
3 | A nossa postura perante a vida
O nosso tempo de vida é limitado. A Medicina tem conseguido prolongá-lo mas, mesmo assim, ele é fugaz e escapa-nos entre os dedos.
Cada um de nós terá um entendimento diferente do valor da vida, do valor da sua vida e do modo como a quer viver mas, como regra, desejamos todos viver muito tempo e o melhor possível.
Neste “melhor possível” cabem inúmeras variantes, diferentes verdades, diferentes valores que se intersectam com os das outras pessoas que coexistem nos nossos diferentes espaços.
Ter a noção do valor da nossa vida, do seu valor para os que nos estimam e do seu valor (custo) para a sociedade onde nos inserimos é também importante e uma medida da nossa responsabilidade moral e social.
Sendo certo que o nosso corpo nos pertence,
temos o dever de o cuidar e de não transmitir
o ónus desse cuidado a terceiros.
Os cuidados de saúde, cada vez mais assentes em plataformas tecnológicas, têm um custo elevadíssimo que, em última análise, se repercute em todos. Como se costuma dizer, a saúde não tem valor. Mas tem um preço e devemos nunca esquecer esse facto…
Em resumo:
Viver de forma saudável não deve ter como objectivo principal evitar a doença, mas sim, criar condições para uma vida mais longa e mais feliz.
Viver de forma saudável é a melhor forma de prestarmos homenagem ao nosso corpo, aos que amamos e a nós mesmos.
Viver de forma saudável é, no fundo, a própria definição de viver. E convenhamos, prefiro esta à da OMS…
PREVENIR
CUIDAR
REFLECTIR
Luís Gouveia Andrade
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