Um adulto a destruir o lar de uma criança… o jardim onde ela passeia… o parque onde ela brinca. O que sentiria? Como reagiria?
Choque, repulsa, incompreensão, dor? Seguramente, muitos de nós nos revoltaríamos contra esse adulto, tentaríamos pará-lo, defender essa criança, certo?
Porque quando vemos uma criança sentimos, quase instintivamente o desejo e dever de a proteger. Quer tenhamos filhos, quer não, tendemos a desejar um futuro risonho e brilhante para estes pequenos seres indefesos.
Mas na prática, aquilo que nos preparamos para lhes deixar é um belo e “farfalhudo” presente “envenenado”. Uma terra esgotada, cheia de problemas ambientais. Conflitos e tensões sociais, que tantas vezes acabam por originar guerras. Constantes crises económicas e uma distribuição desigual e ilógica dos recursos.
Então, porque somos tão incoerentes entre aquilo que queremos e o que fazemos?!
Num mundo cada vez mais global é fácil esquecermos as distâncias, as desigualdades, as incoerências… E assim, a dúvida permanece: O que podemos fazer para alterar esta situação… já?!
Talvez possamos ser um pouco mais ecológicos: reduzir significativamente as emissões de carbono, diminuir a quantidade de resíduos… Talvez o possamos fazer radicalmente e em massa. Mas não basta! A verdade é essa…
O caminho para um mundo mais sustentável passa por uma mudança de hábitos, atitudes e comportamentos, claro que sim! Mas, mais do que isso, inevitavelmente passa também por uma mudança radical de paradigma. Uma profunda transformação na forma como concebemos o mundo, a economia e a sociedade.
Os padrões de vida que seguimos estão enraizados em crenças culturais e modelos consumistas que já não fazem sentido.
Vivemos, há demasiado tempo, num sistema que valoriza excessivamente o estatuto e a novidade.
Este mesmo estatuto e novidade, que foram tão essenciais à nossa evolução e sobrevivência, transmitem-nos uma noção (errada) de que só podemos ser felizes, bem-sucedidos e prósperos se tivermos cada vez mais e melhor.
Mas progresso e sucesso não são sinónimos de expansão económica constante. Nem o podem ser.
Exemplo disso é que é, muitas vezes, na crise que a mudança acontece. É na adversidade que as grandes revoluções acontecem, sejam estas tecnológicas ou de mentalidades.
Estaremos nós preparados para enfrentar a mudança que se impõe?
Permita-se fazer um breve exercício:
Pare! Feche os olhos e respire profundamente. Procure conectar-se consigo próprio e com este planeta que faz parte de si. Agora abra os olhos. Olhe à sua volta! Reflicta…
O que tem, neste momento, ao seu redor?
Quantas dessas coisas são verdadeiramente essenciais?
De onde vieram?
Para onde irão quando já não precisar delas?
Quantas vezes reflectimos sobre estas questões no nosso dia-a-dia?
Quantos de nós fazem escolhas verdadeiramente conscientes e reflectidas?
Ao fazermos escolhas mais sustentáveis estaremos também a criar comunidades cada vez mais resilientes. Por resiliência entende-se a capacidade que algo ou alguém tem de, perante uma crise, retomar ao seu estado de equilíbrio, sem perder a sua estrutura e as suas funções básicas.
Isto não quer dizer que não haja destruição, perda ou dano, apenas que o sistema tem a capacidade de absorver os impactos sem perda da identidade essencial.
E, para que isto aconteça, é fundamental que essa identidade seja reconhecida por cada um de nós. Que os nossos valores, enquanto indivíduos e comunidades estejam bem definidos e presentes. Que saibamos o que é essencial, o que realmente importa.
Voltemos à imagem inicial: imagine uma criança a quem um adulto retirava significativa parte dos alimentos, roupas, bens diversos… Não lhe parece correcto, pois não?
E se esse adulto lhe dissesse que estava a retirar tudo aquilo ao filho, para guardar para um neto, ainda nem sequer nascido?! Talvez compreendesse melhor, mas justificaria aquela atitude? Provavelmente não.
Mas, talvez essa criança entenda as motivações do adulto…talvez ela própria deseje abdicar de algo, do muito que tem, para partilhar com essas gerações que estão por vir. E isso poderá fazer toda a diferença.
O que importa reter é que estamos a falar de um futuro em conjunto, que nos pertence a todos. Esta ideia foi, perfeitamente transmitida pelo Relatório Brundtland, intitulado “O Nosso Futuro Comum”, onde, pela primeira vez foi apresentado o conceito de desenvolvimento sustentável.
Segundo este relatório, “A humanidade tem capacidade para tornar sustentável o progresso – para assegurar que pode dar satisfação às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras poderem satisfazer as de então”[1].
Isto implica o respeito pela integridade ecológica e a eficiente utilização de recursos para satisfação das necessidades humanas presentes e futuras. Mas também a transmissão de toda uma herança cultural, a conservação e desenvolvimento do potencial humano e social.
Em todos os lugares, em todas as gerações.
Por isso, reflicta mais um pouco…
Que mundo encontrou à sua nascença? Que mundo deseja deixar para os seus filhos e netos?
Sabemos já que esta Terra não nos pertence… por isso, é nossa responsabilidade deixá-la, em condições de ser usufruída pelas gerações vindouras.
Isto significa que devemos abandonar totalmente o nosso estilo de vida, de consumo, de sociedade?
Claro que não! Estamos a falar responsabilidade intergeracional, não de abnegação. Na prática, isto quer dizer que temos o dever (e direito) de cuidar dos interesses daqueles que virão, da mesma forma como cuidamos dos nossos… Nem mais, nem menos.
Porque o futuro está a acontecer agora.
[1]Comissão Mundial do Ambiente e do Desenvolvimento (W.C.E.D). O nosso futuro comum. Lisboa: Meribérica/Liber Editores, 1991
O Futuro dos nossos Filhos
Imagine que, hoje, se depara com a seguinte cena:
Um adulto a destruir o lar de uma criança… o jardim onde ela passeia… o parque onde ela brinca. O que sentiria? Como reagiria?
Choque, repulsa, incompreensão, dor? Seguramente, muitos de nós nos revoltaríamos contra esse adulto, tentaríamos pará-lo, defender essa criança, certo?
Porque quando vemos uma criança sentimos, quase instintivamente o desejo e dever de a proteger. Quer tenhamos filhos, quer não, tendemos a desejar um futuro risonho e brilhante para estes pequenos seres indefesos.
Mas na prática, aquilo que nos preparamos para lhes deixar é um belo e “farfalhudo” presente “envenenado”. Uma terra esgotada, cheia de problemas ambientais. Conflitos e tensões sociais, que tantas vezes acabam por originar guerras. Constantes crises económicas e uma distribuição desigual e ilógica dos recursos.
Então, porque somos tão incoerentes entre aquilo que queremos e o que fazemos?!
Num mundo cada vez mais global é fácil esquecermos as distâncias, as desigualdades, as incoerências… E assim, a dúvida permanece: O que podemos fazer para alterar esta situação… já?!
Talvez possamos ser um pouco mais ecológicos: reduzir significativamente as emissões de carbono, diminuir a quantidade de resíduos… Talvez o possamos fazer radicalmente e em massa. Mas não basta! A verdade é essa…
O caminho para um mundo mais sustentável passa por uma mudança de hábitos, atitudes e comportamentos, claro que sim! Mas, mais do que isso, inevitavelmente passa também por uma mudança radical de paradigma. Uma profunda transformação na forma como concebemos o mundo, a economia e a sociedade.
Os padrões de vida que seguimos estão enraizados em crenças culturais e modelos consumistas que já não fazem sentido.
Vivemos, há demasiado tempo, num sistema que valoriza excessivamente o estatuto e a novidade.
Este mesmo estatuto e novidade, que foram tão essenciais à nossa evolução e sobrevivência, transmitem-nos uma noção (errada) de que só podemos ser felizes, bem-sucedidos e prósperos se tivermos cada vez mais e melhor.
Mas progresso e sucesso não são sinónimos de expansão económica constante. Nem o podem ser.
Exemplo disso é que é, muitas vezes, na crise que a mudança acontece. É na adversidade que as grandes revoluções acontecem, sejam estas tecnológicas ou de mentalidades.
Estaremos nós preparados para enfrentar a mudança que se impõe?
Permita-se fazer um breve exercício:
Pare! Feche os olhos e respire profundamente. Procure conectar-se consigo próprio e com este planeta que faz parte de si. Agora abra os olhos. Olhe à sua volta! Reflicta…
Quantas vezes reflectimos sobre estas questões no nosso dia-a-dia?
Quantos de nós fazem escolhas verdadeiramente conscientes e reflectidas?
Ao fazermos escolhas mais sustentáveis estaremos também a criar comunidades cada vez mais resilientes. Por resiliência entende-se a capacidade que algo ou alguém tem de, perante uma crise, retomar ao seu estado de equilíbrio, sem perder a sua estrutura e as suas funções básicas.
Isto não quer dizer que não haja destruição, perda ou dano, apenas que o sistema tem a capacidade de absorver os impactos sem perda da identidade essencial.
E, para que isto aconteça, é fundamental que essa identidade seja reconhecida por cada um de nós. Que os nossos valores, enquanto indivíduos e comunidades estejam bem definidos e presentes. Que saibamos o que é essencial, o que realmente importa.
Voltemos à imagem inicial: imagine uma criança a quem um adulto retirava significativa parte dos alimentos, roupas, bens diversos… Não lhe parece correcto, pois não?
E se esse adulto lhe dissesse que estava a retirar tudo aquilo ao filho, para guardar para um neto, ainda nem sequer nascido?! Talvez compreendesse melhor, mas justificaria aquela atitude? Provavelmente não.
Mas, talvez essa criança entenda as motivações do adulto…talvez ela própria deseje abdicar de algo, do muito que tem, para partilhar com essas gerações que estão por vir. E isso poderá fazer toda a diferença.
O que importa reter é que estamos a falar de um futuro em conjunto, que nos pertence a todos. Esta ideia foi, perfeitamente transmitida pelo Relatório Brundtland, intitulado “O Nosso Futuro Comum”, onde, pela primeira vez foi apresentado o conceito de desenvolvimento sustentável.
Segundo este relatório, “A humanidade tem capacidade para tornar sustentável o progresso – para assegurar que pode dar satisfação às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras poderem satisfazer as de então” [1].
Isto implica o respeito pela integridade ecológica e a eficiente utilização de recursos para satisfação das necessidades humanas presentes e futuras. Mas também a transmissão de toda uma herança cultural, a conservação e desenvolvimento do potencial humano e social.
Em todos os lugares, em todas as gerações.
Por isso, reflicta mais um pouco…
Que mundo encontrou à sua nascença? Que mundo deseja deixar para os seus filhos e netos?
Sabemos já que esta Terra não nos pertence… por isso, é nossa responsabilidade deixá-la, em condições de ser usufruída pelas gerações vindouras.
Isto significa que devemos abandonar totalmente o nosso estilo de vida, de consumo, de sociedade?
Claro que não! Estamos a falar responsabilidade intergeracional, não de abnegação. Na prática, isto quer dizer que temos o dever (e direito) de cuidar dos interesses daqueles que virão, da mesma forma como cuidamos dos nossos… Nem mais, nem menos.
Porque o futuro está a acontecer agora.
[1] Comissão Mundial do Ambiente e do Desenvolvimento (W.C.E.D). O nosso futuro comum. Lisboa: Meribérica/Liber Editores, 1991
CONSCIÊNCIA
ESCOLHA
COMPROMISSO
Susana Machado
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