Continuemos neste percurso pelo mercado de valores não financeiros. Podemos incluir sentimentos, princípios, seres vivos, mas será sempre uma escolha subjectiva, difícil de quantificar, de medir, de validar.
Revendo o que já partilhei — arte, amizade, família e saúde — pressinto essa subjectividade, mesmo perante valores tão universais. Mas nada posso fazer. E, no fundo, não é assim tão importante. Não se procura aqui o consenso, a unanimidade, a aprovação incondicional.
O que se pretende é a partilha de reflexões, pensamentos e emoções e que essa partilha gere outras reflexões e opiniões, iguais ou antagónicas, de preferência nunca indiferentes.
Hoje ocorre-me escrever sobre um dos valores mais preciosos, sobre o qual tanto falamos e que tanto desperdiçamos, cujo início desconhecemos e cujo fim nos transcende mas que é, no fundo, a medida mais relevante, mais cruel e mais inexorável da nossa vida e da nossa mortalidade. Falo, naturalmente, do tempo.
O Tempo
Tudo o que vivemos, pensamos, sentimos corre sobre o tempo. Ou dentro dele. Ou ao ritmo dele.
Temos o tempo físico, contado pelos segundos, anos e séculos. E temos o tempo meteorológico, o tempo musical, o tempo gramatical. Tempos diferentes para realidades distintas, mas todas evoluindo dentro do tempo físico, aquele que não abranda e cuja essência ainda aquece o debate filosófico: qual a natureza do tempo? Como flui? É o tempo linear?
E aqui teríamos o tempo, não como medida absoluta, mas como variável dependente de outras e que permitiria, no limite, que para alguém que se deslocasse a uma velocidade próxima da velocidade da luz, o tempo decorresse a 14% do ritmo habitual.
Mas não é sobre isso que quero escrever.
O que me interessa é o tempo das nossas vidas, aquele que corre desde que acordamos até que nos deitamos, aquele que se esquece durante o sono e que deixa para trás memórias boas e más, saudades, sabores e cheiros, aquele que o espelho nos mostra sob a forma de vincos na cara, que nos retira o vigor, a juventude e a saúde, aquele que vivemos hoje e aquele que sonhamos e idealizamos amanhã, sem nunca saber se chegará.
Perdemos tempo. Perdemos tanto tempo. E tratamos mal o tempo. Não lhe damos valor. A não ser, claro, quando percebemos que ele é um bem escasso, quando vemos, ao contrário de Einstein, que ele parece estar a acelerar, a fugir-nos entre os dedos, quando vemos amigos e familiares a tornarem-se parte do passado.
Aí o tempo ganha mais consistência, mais importância, mais valor. Mas, quase sempre, por pouco tempo.
Temos esses lampejos de clarividência, de lucidez. Imaginamos mudar de vida, passar a dar valor ao tempo, aproveitá-lo ao máximo.
Tornamo-nos os maiores mensageiros
de Horácio e do seu carpe diem,
tão repetido e banalizado em tatuagens e citações,
tão raramente cumprido.
Mas a vida tende a engolir-nos, a arrastar-nos para o turbilhão da rotina, a afastar-nos do que vale a pena, fazendo-nos rodopiar na superficialidade que nos sufoca e distrai do essencial.
“O essencial é invisível aos olhos”, afirma Antoine de Saint-Exupéry no seu imortal “O Pequeno Príncipe” e é verdade. O essencial tende a tornar-se invisível para todos nós, escondido na sombra do trivial e acessório.
Sabemos o valor do tempo porque o sentimos a passar na luz do dia, nos ponteiros do relógio, nas vidas que partem e nas que nascem. Sabemos tudo isso e sabemos que o tempo é sempre pouco para terminar uma tarefa, para cumprir um desejo, para estar com alguém.
E, mesmo assim, não somos capazes de o domar, de nos tornarmos seus donos, de o moldar aos nossos desejos, aos nossos caprichos, às nossas vontades.
Pensamos muito no amanhã como a desculpa perfeita e a estimulante recompensa. Amanhã bebo este vinho, no próximo verão vou a Paris, este fim-de-semana telefono ao meu amigo…
Adoramos promessas de fim de ano, os balanços do que se fez e do que se quer fazer. No ano seguinte serão mais ou menos as mesas.
Não controlamos o tempo nem a vida, que se derrama aos nossos pés, se infiltra entre as pedras da calçada, se evapora no vazio.
Eis um texto que parece derrotado, vencido, uma verdadeira perda de tempo. Não é essa a intenção, creiam-me.
O que pretendo, para vós e para mim, é relembrar o valor único e sagrado de cada segundo, o seu carácter irreversível e a necessidade de termos coragem e determinação para saborear o tempo, honrá-lo, dedicar-lhe o melhor de nós e de o dedicarmos a todos os outros valores que para nós fazem sentido.
Tentemos não o desperdiçar,
saibamos moldá-lo e preenchê-lo,
dar-lhe significado.
As únicas certezas que sobre o tempo temos são as que dizem respeito ao passado.
O futuro será sempre uma incógnita, na qualidade e na quantidade de tempo que o define. O presente está algures no meio, sempre a fluir e a converter o futuro em passado, à medida que o vivemos e percorremos.
Conseguimos dar melhor uso ao nosso tempo? Somos capazes de o utilizar para sermos mais felizes e tornarmos outros mais felizes? Temos noção do seu real valor? Ou prosseguiremos sem tempo para nada e com cada vez menos tempo diante de nós?
Bolsa de Valores | O Tempo
Continuemos neste percurso pelo mercado de valores não financeiros. Podemos incluir sentimentos, princípios, seres vivos, mas será sempre uma escolha subjectiva, difícil de quantificar, de medir, de validar.
Revendo o que já partilhei — arte, amizade, família e saúde — pressinto essa subjectividade, mesmo perante valores tão universais. Mas nada posso fazer. E, no fundo, não é assim tão importante. Não se procura aqui o consenso, a unanimidade, a aprovação incondicional.
O que se pretende é a partilha de reflexões, pensamentos e emoções e que essa partilha gere outras reflexões e opiniões, iguais ou antagónicas, de preferência nunca indiferentes.
Hoje ocorre-me escrever sobre um dos valores mais preciosos, sobre o qual tanto falamos e que tanto desperdiçamos, cujo início desconhecemos e cujo fim nos transcende mas que é, no fundo, a medida mais relevante, mais cruel e mais inexorável da nossa vida e da nossa mortalidade. Falo, naturalmente, do tempo.
O Tempo
Tudo o que vivemos, pensamos, sentimos corre sobre o tempo. Ou dentro dele. Ou ao ritmo dele.
Temos o tempo físico, contado pelos segundos, anos e séculos. E temos o tempo meteorológico, o tempo musical, o tempo gramatical. Tempos diferentes para realidades distintas, mas todas evoluindo dentro do tempo físico, aquele que não abranda e cuja essência ainda aquece o debate filosófico: qual a natureza do tempo? Como flui? É o tempo linear?
E, se quisermos complicar, pensemos em Einstein e na sua teoria da relatividade, segundo a qual o tempo passa a ritmos diferentes para observadores que se desloquem a velocidades diferentes.
E aqui teríamos o tempo, não como medida absoluta, mas como variável dependente de outras e que permitiria, no limite, que para alguém que se deslocasse a uma velocidade próxima da velocidade da luz, o tempo decorresse a 14% do ritmo habitual.
Mas não é sobre isso que quero escrever.
O que me interessa é o tempo das nossas vidas, aquele que corre desde que acordamos até que nos deitamos, aquele que se esquece durante o sono e que deixa para trás memórias boas e más, saudades, sabores e cheiros, aquele que o espelho nos mostra sob a forma de vincos na cara, que nos retira o vigor, a juventude e a saúde, aquele que vivemos hoje e aquele que sonhamos e idealizamos amanhã, sem nunca saber se chegará.
Perdemos tempo. Perdemos tanto tempo. E tratamos mal o tempo. Não lhe damos valor. A não ser, claro, quando percebemos que ele é um bem escasso, quando vemos, ao contrário de Einstein, que ele parece estar a acelerar, a fugir-nos entre os dedos, quando vemos amigos e familiares a tornarem-se parte do passado.
Aí o tempo ganha mais consistência, mais importância, mais valor. Mas, quase sempre, por pouco tempo.
Temos esses lampejos de clarividência, de lucidez. Imaginamos mudar de vida, passar a dar valor ao tempo, aproveitá-lo ao máximo.
Tornamo-nos os maiores mensageiros
de Horácio e do seu carpe diem,
tão repetido e banalizado em tatuagens e citações,
tão raramente cumprido.
Mas a vida tende a engolir-nos, a arrastar-nos para o turbilhão da rotina, a afastar-nos do que vale a pena, fazendo-nos rodopiar na superficialidade que nos sufoca e distrai do essencial.
“O essencial é invisível aos olhos”, afirma Antoine de Saint-Exupéry no seu imortal “O Pequeno Príncipe” e é verdade. O essencial tende a tornar-se invisível para todos nós, escondido na sombra do trivial e acessório.
Sabemos o valor do tempo porque o sentimos a passar na luz do dia, nos ponteiros do relógio, nas vidas que partem e nas que nascem. Sabemos tudo isso e sabemos que o tempo é sempre pouco para terminar uma tarefa, para cumprir um desejo, para estar com alguém.
E, mesmo assim, não somos capazes de o domar, de nos tornarmos seus donos, de o moldar aos nossos desejos, aos nossos caprichos, às nossas vontades.
Pensamos muito no amanhã como a desculpa perfeita e a estimulante recompensa. Amanhã bebo este vinho, no próximo verão vou a Paris, este fim-de-semana telefono ao meu amigo…
Adoramos promessas de fim de ano, os balanços do que se fez e do que se quer fazer. No ano seguinte serão mais ou menos as mesas.
Não controlamos o tempo nem a vida, que se derrama aos nossos pés, se infiltra entre as pedras da calçada, se evapora no vazio.
Eis um texto que parece derrotado, vencido, uma verdadeira perda de tempo. Não é essa a intenção, creiam-me.
O que pretendo, para vós e para mim, é relembrar o valor único e sagrado de cada segundo, o seu carácter irreversível e a necessidade de termos coragem e determinação para saborear o tempo, honrá-lo, dedicar-lhe o melhor de nós e de o dedicarmos a todos os outros valores que para nós fazem sentido.
Tentemos não o desperdiçar,
saibamos moldá-lo e preenchê-lo,
dar-lhe significado.
As únicas certezas que sobre o tempo temos são as que dizem respeito ao passado.
O futuro será sempre uma incógnita, na qualidade e na quantidade de tempo que o define. O presente está algures no meio, sempre a fluir e a converter o futuro em passado, à medida que o vivemos e percorremos.
Conseguimos dar melhor uso ao nosso tempo? Somos capazes de o utilizar para sermos mais felizes e tornarmos outros mais felizes? Temos noção do seu real valor? Ou prosseguiremos sem tempo para nada e com cada vez menos tempo diante de nós?
Pense e… não perca tempo.
RITMO
PRESENÇA
SIGNIFICADO
Luís Gouveia Andrade
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