Porque temos de dormir? Que valor atribuímos ao sono nos dias de hoje?
É inquestionável que necessitamos de dormir para viver e que é uma necessidade básica e insubstituível – de outra forma porque passaríamos 1/3 das nossas vidas a dormir?
Como afirmou um dos grandes mestres da Medicina do Sono Allan Rechtschaffen – “If sleep doesn´t serve vital function, it is the biggest mistake evolution ever made”.
Então porque deixámos nós de dormir? Porque tratamos o sono como um inimigo?
Dormimos por múltiplas razões e sabemos atualmente que o sono é fundamental no processo de restauração, de conservação de energia e de consolidação de memória. E, começámos a dormir menos porque nos foram dadas condições que nos permitiram continuar acordados quando deveríamos estar a dormir.
Em primeiro lugar, o surgimento da luz elétrica que permitiu ser dia 24 horas por dia. Surgiu assim a oportunidade de continuarmos a trabalhar até depois do sol se pôr.
A sincronização com o sol,
que até então existia de forma inultrapassável,
é fundamental para dormirmos bem.
E depois de quebrarmos uma relação de milhares de anos com o sol, passamos a atribuir uma conotação negativa ao ato de dormir, seja por considerarmos uma perda de tempo, uma manifestação de preguiça ou até mesmo colocada em causa a sua necessidade para uma vida normal.
Thomas Edison fez provavelmente a primeira grande campanha publicitária, ao defender a diminuição do tempo total de sono, criando a ideia da escolha simples que todos deveríamos fazer entre o trabalho produtivo e o descanso improdutivo.
Quatro horas de sono seriam mais do que suficientes forçando a mesma restrição aos seus empregados.
Consta que fazia entrevistas de trabalho às 04h00m da manhã e chegou mesmo a afirmar “There is really no reason why men should go to bed at all”, em 1914.
Assim, desde o início do século XX, em diversas circunstância, o recurso ao processo Darwiano leva a que sejam selecionados aqueles que têm uma maior tolerância a dormir pouco, ou dito de outra forma, à privação de sono.
Se há quem boceje, fique lentificado ou até mesmo adormeça numa reunião, também há quem quando dorme pouco fique mais conversador, mais agitado quer do ponto de vista mental quer do ponto de vista comportamental, mimetizando até um aumento de energia com um menor número de horas de sono.
Mas na verdade são raros os casos de pessoas que têm uma necessidade de sono igual ou inferior a cinco horas por dia.
O erro está em confundir a real necessidade
de horas de sono e a capacidade
de tolerar a privação de sono.
Se há quem durma cinco horas e funcione bem no dia seguinte não significa de imediato que essa pessoa apenas tem necessidade de dormir cinco horas por dia.
Ou tão pouco significa que quem não tolera bem uma noite de sono inferior às suas necessidades, como é o caso de pessoas que ficam irritáveis, com mais apetite ou com cefaleias no dia seguinte, que são menos capazes ou mais preguiçosas.
Da mesma forma, é fácil para algumas pessoas passar várias horas em jejum enquanto para outras é totalmente impensável passar mais de três horas sem comer.
Querer ultrapassar as suas próprias necessidades é igual a querer comprar um par de sapatos n.º 36 quando se calça o n.º 38 – até pode aguentar umas horas com os sapatos pequenos mas as consequências irão sempre aparecer, mais tarde ou mais cedo.
Se o tamanho do pé e do sapato que calça não é jamais posto em causa porque é o tempo que dorme?
O tempo necessário de sono
é único em cada indivíduo
e muda ao longo da vida.
Assim como a tolerância à privação de sono e a capacidade de recuperar de uma noite, ou várias noites, mal dormidas o são.
E estas vão diminuindo com o envelhecimento. Por isso “antigamente aguentava várias semanas a dormir seis horas por dia mas agora não…”.
Embora haja quem possa tolerar ou recuperar bem de noites com poucas horas de sono, as consequências de dormir menos do que as necessidades de cada pessoa são iguais em todos os indivíduos tenham eles maior ou menor tolerância à privação de sono.
Os efeitos podem ser divididos em três grupos:
• Curto prazo | Como irritabilidade, aumento do apetite, acidentes de viação.
• Médio prazo | Como alterações do humor ou aumento de peso.
• Longo prazo | Como o aumento do consumo de álcool, cafeína ou até mesmo do risco de demência.
Uma noite com poucas horas de sono diminui a criatividade, aumenta a impulsividade e diminuí a capacidade mnésica.
De manhã quantos condutores
fazem prova da sua noite mal dormida?
Foi desta forma que a sociedade foi evoluindo, dando cada vez mais oportunidades aos indivíduos para dormir menos, reforçando a ideia de que é uma perda de tempo dormir à medida que o mundo competitivo da economia mundial crescia e da tecnologia se desenvolvia.
Atualmente, a luz já não se apaga nunca. Depende apenas de cada individuo respeitar o seu relógio biológico e manter o equilíbrio interno ao respeitar as suas horas de sono.
Médica Neurologista especializada em Medicina do Sono. Sleep Somnologist pela European Sleep Research Society. Membro da Movement Disorders Society, da Associação Portuguesa do Sono e da American Association of Sleep Medicine.
Que Importância tem o Sono?
Porque temos de dormir? Que valor atribuímos ao sono nos dias de hoje?
É inquestionável que necessitamos de dormir para viver e que é uma necessidade básica e insubstituível – de outra forma porque passaríamos 1/3 das nossas vidas a dormir?
Como afirmou um dos grandes mestres da Medicina do Sono Allan Rechtschaffen – “If sleep doesn´t serve vital function, it is the biggest mistake evolution ever made”.
Então porque deixámos nós de dormir? Porque tratamos o sono como um inimigo?
Dormimos por múltiplas razões e sabemos atualmente que o sono é fundamental no processo de restauração, de conservação de energia e de consolidação de memória. E, começámos a dormir menos porque nos foram dadas condições que nos permitiram continuar acordados quando deveríamos estar a dormir.
Em primeiro lugar, o surgimento da luz elétrica que permitiu ser dia 24 horas por dia. Surgiu assim a oportunidade de continuarmos a trabalhar até depois do sol se pôr.
A sincronização com o sol,
que até então existia de forma inultrapassável,
é fundamental para dormirmos bem.
E depois de quebrarmos uma relação de milhares de anos com o sol, passamos a atribuir uma conotação negativa ao ato de dormir, seja por considerarmos uma perda de tempo, uma manifestação de preguiça ou até mesmo colocada em causa a sua necessidade para uma vida normal.
Thomas Edison fez provavelmente a primeira grande campanha publicitária, ao defender a diminuição do tempo total de sono, criando a ideia da escolha simples que todos deveríamos fazer entre o trabalho produtivo e o descanso improdutivo.
Quatro horas de sono seriam mais do que suficientes forçando a mesma restrição aos seus empregados.
Consta que fazia entrevistas de trabalho às 04h00m da manhã e chegou mesmo a afirmar “There is really no reason why men should go to bed at all”, em 1914.
Assim, desde o início do século XX, em diversas circunstância, o recurso ao processo Darwiano leva a que sejam selecionados aqueles que têm uma maior tolerância a dormir pouco, ou dito de outra forma, à privação de sono.
Se há quem boceje, fique lentificado ou até mesmo adormeça numa reunião, também há quem quando dorme pouco fique mais conversador, mais agitado quer do ponto de vista mental quer do ponto de vista comportamental, mimetizando até um aumento de energia com um menor número de horas de sono.
Mas na verdade são raros os casos de pessoas que têm uma necessidade de sono igual ou inferior a cinco horas por dia.
O erro está em confundir a real necessidade
de horas de sono e a capacidade
de tolerar a privação de sono.
Se há quem durma cinco horas e funcione bem no dia seguinte não significa de imediato que essa pessoa apenas tem necessidade de dormir cinco horas por dia.
Ou tão pouco significa que quem não tolera bem uma noite de sono inferior às suas necessidades, como é o caso de pessoas que ficam irritáveis, com mais apetite ou com cefaleias no dia seguinte, que são menos capazes ou mais preguiçosas.
Da mesma forma, é fácil para algumas pessoas passar várias horas em jejum enquanto para outras é totalmente impensável passar mais de três horas sem comer.
Querer ultrapassar as suas próprias necessidades é igual a querer comprar um par de sapatos n.º 36 quando se calça o n.º 38 – até pode aguentar umas horas com os sapatos pequenos mas as consequências irão sempre aparecer, mais tarde ou mais cedo.
Se o tamanho do pé e do sapato que calça não é jamais posto em causa porque é o tempo que dorme?
O tempo necessário de sono
é único em cada indivíduo
e muda ao longo da vida.
Assim como a tolerância à privação de sono e a capacidade de recuperar de uma noite, ou várias noites, mal dormidas o são.
E estas vão diminuindo com o envelhecimento. Por isso “antigamente aguentava várias semanas a dormir seis horas por dia mas agora não…”.
Embora haja quem possa tolerar ou recuperar bem de noites com poucas horas de sono, as consequências de dormir menos do que as necessidades de cada pessoa são iguais em todos os indivíduos tenham eles maior ou menor tolerância à privação de sono.
Os efeitos podem ser divididos em três grupos:
• Curto prazo | Como irritabilidade, aumento do apetite, acidentes de viação.
• Médio prazo | Como alterações do humor ou aumento de peso.
• Longo prazo | Como o aumento do consumo de álcool, cafeína ou até mesmo do risco de demência.
Uma noite com poucas horas de sono diminui a criatividade, aumenta a impulsividade e diminuí a capacidade mnésica.
De manhã quantos condutores
fazem prova da sua noite mal dormida?
Foi desta forma que a sociedade foi evoluindo, dando cada vez mais oportunidades aos indivíduos para dormir menos, reforçando a ideia de que é uma perda de tempo dormir à medida que o mundo competitivo da economia mundial crescia e da tecnologia se desenvolvia.
O dinheiro nunca dorme, certo? Mas o ser humano necessita dormir, da mesma forma que necessita comer ou respirar.
Atualmente, a luz já não se apaga nunca. Depende apenas de cada individuo respeitar o seu relógio biológico e manter o equilíbrio interno ao respeitar as suas horas de sono.
FUNDAMENTAL
EQUILIBRIO
SAÚDE
Dulce Neutel
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